‘A Dona do Pedaço’: trama clichê e agilidade marcam estreia da novela

Primeiro capítulo do folhetim escrito por Walcyr Carrasco foi ao ar na noite dessa segunda-feira (20), na Globo

iG Minas Gerais | Renato Lombardi |

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Afirmar que uma novela vai ser boa só pelo primeiro capítulo é algo muito arriscado. Afinal, no grande dia da estreia, as sequências levadas ao ar são feitas e pensadas para agradar o público, sempre focando o velho ditado de que “a primeira impressão é a que fica”. E seguindo esse raciocínio, a Globo não mediu esforços para exibir, na noite dessa segunda-feira (20), um capítulo bonito na estreia de “A Dona do Pedaço”, novo folhetim das nove - e conseguiu cumprir seu objetivo, em partes.

A trama substitui a conturbada “O Sétimo Guardião”, de Aguinaldo Silva, e chegou com a missão de dar uma alavancada na audiência do horário nobre da emissora. Walcyr Carrasco, autor de “A Dona do Pedaço”, é expert nisso e já emplacou sucessos em todas as faixas de novelas da casa - vide “O Cravo e a Rosa”, “Sete Pecados”, “Verdades Secretas” e “O Outro Lado do Paraíso”. Carrasco é conhecido por sempre apostar em histórias básicas e clichês, que se diferenciam, basicamente, pelos nomes dos personagens e o local onde se passam. E com “A Dona do Pedaço” não é diferente.

A trama, estrelada por Juliana Paes, é uma nova versão do clássico “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare. Afinal, Maria da Paz, vivida por Juliana, vai ser separada de seu grande amor, Amadeu (Marcos Palmeira), por causa da rivalidade que há entre suas famílias. O mocinho é baleado no dia do casamento, Maria acredita que seu amado morreu e foge para São Paulo. Porém, ele sobrevive e passa a acreditar que a moça também está morta. Eles vão se reencontrar 20 anos depois em São Paulo, quando Maria for uma mulher rica, dona de uma rede de confeitarias. Quer algo mais clichê que isso? Claro, alguns detalhes serão adicionados a essa história, mas nada de novo, nada de surpreendente. Esse enredo ficou claro logo na estreia de “A Dona do Pedaço” e deixou a brecha do que está por vir.

O primeiro capítulo teve muitos pontos positivos. Foi ágil, com muitos acontecimentos, e teve a apresentação da personalidade de cada um dos personagens que interferem diretamente na história - traçou um perfil dos membros das famílias de pistoleiros Ramirez e Mateus, que vivem na fictícia cidade de Rio Vermelho, no Espírito Santo, e mostrou como Maria da Paz Ramirez e Amadeu Mateus se diferenciam de seus parentes. A ação mesmo ficou por conta da rivalidade entre as duas famílias, que protagonizaram uma espécie de faroeste, onde todos os personagens - exceto Maria da Paz, que parece querer seguir à risca o significado de seu nome - andam armados. Teve tiros, teve mortes, e nada de polícia.

O elenco é estrelado, e brilhou. Fernanda Montenegro, que vive a matriarca da família Ramirez, foi destaque e mostrou a força da mulher na história, mesmo seguindo uma lógica machista - vale lembrar que a primeira fase da novela se passa nos anos 90. Walcyr Carrasco já falou que a novela vai ressaltar essa força feminina, que a partir de agora vai se concentrar na personagem de Juliana Paes.

As imagens levadas ao ar merecem um destaque à parte, graças ao excelente trabalho de fotografia. Ponto para a diretora artística Amora Mautner, que conseguiu captar toda a beleza das cidades de Jaguarão, Nova Esperança do Sul e São Gabriel, no Rio Grande do Sul - a primeira fase da novela foi gravada no Sul do país, mesmo a história se passando no Espírito Santo. Amora também se destaca pela direção primorosa. A trilha sonora, então, tem tudo para agradar. Quer algo mais popular que a canção “Evidências” na voz de Chitãozinho e Xororó? Ah, sem falar do samba “Tá Escrito”, de Xande de Pilares, que embala a colorida abertura da trama.

No geral, o primeiro capítulo de “A Dona do Pedaço” agradou e foi coerente com o que Walcyr Carrasco sempre entregou. Talvez aí esteja a fórmula do sucesso de todos os trabalhos dele na televisão, sem muitas inovações. Agora, é aguardar os próximos capítulos para ver se a novela não vai perder o rumo - como aconteceu com o “O Sétimo Guardião”. Carrasco tem muitos elementos a favor dele, basta saber aproveitá-los.