História de superação de maestro chega aos palcos de Belo Horizonte

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Poucos maestros caíram tanto no gosto popular quanto João Carlos Martins. Sua história de superação e de amor incondicional pela música já rendeu narrativas no cinema e até enredo de escola de samba. Sua luta para continuar tocando piano, marcada por diversas cirurgias nas mãos, é comovente. E inspira a montagem “Concerto para João”, em cartaz neste fim de semana no Sesc Palladium.

  Com texto de Sérgio Roveri e direção de Cassio Scapin, que também interpreta o maestro, o espetáculo segue caminho diferente daquele percorrido por outros produtos culturais que abordaram a vida do personagem. No lugar da biografia do músico, já contada em canto e imagem, a opção foi centrar a ação do espetáculo na relação entre o artista e sua obra.

“Minha intenção era não repetir a questão biográfica, mas sim jogar luz em cima do maestro, da relação do artista com sua obra de arte, a necessidade absoluta de exercer sua profissão e a dificuldade que ele enfrentou, um verdadeiro calvário de coisas que aconteceram na vida dele e que ele venceu com maestria”, explica Scapin. 

Ao optar por não se centrar na vida de João Carlos Martins, privilegiando a sua condição de artista, a peça universaliza o tema da superação, trazendo a experiência do maestro como um exemplo que pode inspirar, de forma singular, a vida de cada um.

“A ideia é que o espetáculo fosse muito mais abrangente nesse sentido, para podermos discutir a relação com a arte e mostrar como isso serve também para as pessoas e seus desejos particulares, ambições e enfrentamento das dificuldades de suas vidas”, analisa o ator e diretor da peça.

O texto de Sérgio Roveri centra a ação do espetáculo em uma das cirurgias a que o maestro foi submetido. Dividido entre o sono da anestesia e a vigília, ele revive alguns de seus grandes concertos, narra os inúmeros episódios de superação e recebe a visita de um homem misterioso, com quem estabelece uma relação humana e musical.

Nesse sentido, é como se o espectador entrasse na cabeça do maestro durante as nove horas que passou na mesa de cirurgia, em uma das diversas intervenções a que teve que ser submetido para continuar tocando. “A peça acontece, e não sabemos se é um delírio da cabeça dele. O público fica em suspenso, e vai e volta no tempo e na história desse personagem”, adianta Scapin.

Para ele, além de uma homenagem ao maestro, o espetáculo é também uma reflexão sobre a arte e o artista. “Como os artistas estão na linha de frente quando se fala de ideias e passamos por um momento de achatamento do pensamento no país, eles são obviamente atingidos em primeiro plano. Acho que nesse momento é bom ser contada essa história, porque requalificamos o artista e damos uma noção para as pessoas de que a nossa vida não é fácil. Essa é uma lição do maestro”.

Presença

O maestro João Carlos Martins promete uma “palhinha” especial para o espectador belo-horizontino. Ele estará presente nas sessões do espetáculo “Concerto para João” no Sesc Palladium. E, ao final de cada apresentação, ele subirá ao palco para fazer uma apresentação especial. Uma oportunidade de ver um dos mais carismáticos artistas da música clássica em ação.

“Ele tem esse carinho popular não só pelo carisma, mas pela reinvenção dele como maestro. Ele fala a língua do povo e, com a Fundação Bachiana, leva a musica clássica para todos os cantos do país. Essa penetração que ele alcançou é algo raro e especial”, reflete Cassio Scapin, que dirige e atua no espetáculo.