'Eu enterrei meu filho e é um alivio', diz pai que ia todo dia à barragem

Durante 34 dias, Wilson Francelino Caetano, de 64 anos, acordava às 5h da manhã e ia para Brumadinho na esperança de que o corpo do filho fosse encontrado

iG Minas Gerais | Pedro Ferreira |

Não tem um dia em que Wilson Francelino Caetano não vai à mina em busca de notícias do seu filho
Alex de Jesus
Não tem um dia em que Wilson Francelino Caetano não vai à mina em busca de notícias do seu filho

O momento foi de tristeza, mas também de alívio para o aposentado Wilson Francelino Caetano, de 64 anos, que depois de 34 dias de angústia finalmente sepultou, nesta quinta-feira (28), o corpo do filho, o mecânico de manutenção terceirizado da Vale, Luís Paulo Caetano,  de 31 anos, uma das 182 pessoas que perderam a vida no rompimento da barragem de Córrego de Feijão, em Brumadinho,  na região metropolitana de Belo Horizonte, em 25 de janeiro. O sepultamento foi no Cemitério Parque de Nova Lima.

"Eu estou sossegado, um pouco. Jesus ouviu minhas preces. Eu enterrei meu filho e é um alivio para a minha mente. Mas, não encerrou a minha dor, que continua cada vez mais profunda. A gente lembra dele no dia a dia, das brincadeiras dele, da alegria,  dos abraços que ela dava na mãe quando saía para trabalhar", lamentou o aposentado. 

Durante 34 dias, o pai acordava às 5h da manhã e ia para Brumadinho na esperança de que o corpo do filho fosse encontrado  para ter um sepultamento digno, segundo ele. "Cada segundo eu tinha no meu pensamento que um dia ia encontrar ele (o corpo). Foram 34 dias sem dormir. Dormia na faixa de uma hora por noite, sem me alimentar direito, subiu minha pressão, e hoje tomo remédio controlado. Mas, estou satisfeito por ter encontrado meu filho ", disse Wilson.

A mãe de Luís Paulo, a estofadora e dona de casa Francisca Lindalva Caetano, de 59 anos, estava desolada. " Apesar da dor de perder um filho, estou aliviada. Foi muito cruel. Eles podiam ter evitado esse acidente. Graças a Deus, eu tive um corpo para enterrar, mas e as outras mães que não tiveram?", chorou Francisca. Agora, ela diz rezar para que seja encontrado o corpo do sobrinho,  Francis Erick Soares Silva,  de 31 anos, que trabalhava na barragem exercendo as mesmas funções do primo e faz parte da lista dos 126 desaparecidos. "Eu quero que encontrem o corpo do meu sobrinho.  Eu queria que enterrassem os dois juntos", disse Francisca.

No enterro, parentes e amigos usaram camisetas com fotos dos primos. Na parte da frente da camisa,  a frase: "0,1% de chance, 99,9 % de Fé". Nas costas: "Não foi acidente. Foi crime. Justiça!".

Identificação 

A família foi informada da identificação do corpo de Luís Paulo às 18h de quarta-feira.  Na manhã desta quinta-feira (28), o irmão, o zelador Paulo Caetano, de 38 anos, esteve no IML para o reconhecimento . O corpo, segundo ele, estava completo e ainda foi possível reconhecer uma marca de queimadura que  Luís adquiriu ainda criança, no peito.

Também foi feito exame de DNA. Amostras de saliva foram coletadas do pai e do irmão. A família também havia  fornecido a escova de dente, o pente, o desodorante rolon e um raio-x da arcada dentária da vítima para os exames  no IML.

O velório foi feito com o caixão fechado. Em cima, uma camisa do Atlético, time de Luís Paulo, uma camiseta de jiu-jitsu e uma medalha que ele ganhou na VII Copa de Jiu-jitsu de Caeté.