Legado de Orides Fontela é contado em dois livros que serão lançados em BH

Obras homenageiam a escritora paulista e serão apresentados ao público da capital em evento na livraria Dom Quixote neste sábado (23)

iG Minas Gerais | Carlos Andrei Siquara |

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Fritz Nagib/divulgação
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Orides Fontela (1940-1998) é um nome reverenciado por leitores mais especializados de poesia. Autora de seis livros, sua estreia aconteceu com “Transposição” (1969) e, em 1983, foi contemplada com o Jabuti pelo volume “Alba”. Seu último trabalho, “Teia” (1996), foi eleito o melhor livro de poesia do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte, e em cerimônia póstuma, realizada em 2007, em Belo Horizonte, a escritora paulista foi homenageada com a Ordem do Mérito Cultural, concedida pelo Ministério da Cultura para personalidades que prestam contribuição à cultura brasileira.

Duas décadas após sua morte, dois livros organizados pelas editoras belo-horizontinas Relicário e Moinhos celebram a trajetória dessa autora e serão lançados neste sábado (23), na livraria Quixote. São eles, respectivamente, “O Nervo do Poema: Antologia para Orides Fontela”, organizada pelos poetas, professores e pesquisadores Patricia Lavelle e Paulo Henriques Britto, e “Orides Fontela: Toda Palavra É Crueldade – Entrevistas, Resenhas, Depoimentos”, elaborado por Nathan Magalhães, que também é editor da Moinhos.

Descoberta pelo crítico Davi Arrigucci Jr. em 1965, Orides começou a publicar seus poemas em meados da década de 50, no periódico “O Município”, que circulava na sua cidade natal, São João da Boa Vista (SP). À medida que seus textos passaram a ganhar mais visibilidade, ela conquistou a apreciação de outros intelectuais, entre eles o renomado crítico Antonio Candido (1918-2017) e a filósofa Marilena Chaui.

Com formação em filosofia, a poeta manteve o compromisso com o pensamento na sua poesia, compondo versos que os críticos afirmaram fazer parte de uma vertente reflexiva. 

“A poética de Orides se instaura nesse movimento do pensamento, mas sem nunca cair no didatismo. Vários dos poemas dela são feitos a partir de leituras de (Immanuel) Kant (1724-1804) ou de versos de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), por exemplo. Nós notamos que ela compreende os textos e cria uma resposta para cada um deles nos poemas. Então, há essa intertextualidade que atravessa a poética de Orides, e a maneira como ela se relaciona com esse recurso é sempre criativa”, diz Patricia.

“O Nervo do Poema: Antologia para Orides Fontela”, contudo, não abarca os escritos da autora, e sim poemas de 23 poetas que dialogam com o legado poético da homenageada. Entre eles, figuram os próprios organizadores, Patricia e Paulo Henriques Britto. Também participam da iniciativa os mineiros Ana Martins Marques, Ricardo Aleixo e Mônica de Aquino, além das cariocas Laura Erber e Alice Sant’Anna. 

Em comum, os poemas selecionados, de acordo com Patricia, seguem a proposta de Orides, especialmente em relação à investigação dos limites da palavra. “Alguns fazem referência direta à obra de Orides, mas, no geral, os textos inserem-se no contexto das logopeias – termo criado pelo poeta Ezra Pound (1885-1972) para se referir a essa poética do pensamento”, diz a organizadora. 

Do total de 23 autores, 16 são mulheres. “Nós quisemos chamar atenção para a importância dessa poética vinculada ao pensamento feita por mulheres. Esse lugar da filosofia é geralmente mais associado ao masculino, então, é importante marcarmos a contribuição das mulheres nessa seara”, conclui Patricia. 

Vida e obra

já o volume “Orides Fontela: Toda Palavra É Crueldade – Entrevistas, Resenhas, Depoimentos” reúne textos de próprio punho de Orides. Parte deles é de resenhas concebidas por ela em 1980, e outros são depoimentos em que ela reflete sobre seu processo criativo.

“Ela comenta a criação poética, a composição dos livros e como cada um deles surgiu; enfim, os diversos elementos que permeiam a poesia dela”, sintetiza Magalhães, que é pesquisador da obra de Orides. 

O conteúdo, a seu ver, pode interessar tanto a estudiosos quanto ao leitor comum que queira saber mais sobre a vida e a obra da poeta. Ainda sobre Orides, ele acrescenta que vem preparando um site que deverá ir ao ar em 2020. “Quero contribuir para que Orides seja uma das próximas poetas que estejam mais perto do grande público, porque ela, sem sombra de dúvida, deve fazer parte do cânone nacional e é uma das maiores poetas do Brasil”, reforça Magalhães. 

Programe-se!

Os lançamentos serão realizados neste sábado (23), a partir das 11h, na livraria Quixote (rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi).  No local, haverá leituras de poemas por Ana Martins Marques e Mônica de Aquino.