Inadimplência faz preços das escolas aumentarem até 12%
Com crise, atrasos nos pagamentos das mensalidades chegaram a 15%, diz sindicato do setor
Ano novo, mensalidade de escola nova e, em 2019, bem acima da inflação. Em Belo Horizonte, o reajuste das escolas particulares nete ano comparado com 2018 chegou a 11,79% segundo uma pesquisa do site Mercado Mineiro divulgada nesta quarta-feira (2). O índice está bem acima da estimativa de inflação do Banco Central (BC) para 2018, que é de 3,69%. Para a presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) Zuleica Reis Ávila, um dos fatores que impactou o reajuste foi a inadimplência, que no ano passado, entre janeiro e novembro, ficou entre 12% e 15%.
“A inadimplência nos assusta mais a cada ano. É consequência da condição econômica do país, o índice do desemprego e tem também a questão de que muitos servidores públicos estão com os salários atrasados”, avalia Zuleica.
Já o coordenador do site Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, pondera que no reajuste anterior, algumas escolas não aumentaram as mensalidades e até baixaram o valor. “É interessante porque há um ano atrás, na comparação entre 2017 e 2018, houve até queda no preço das mensalidades, porque a expectativa (econômica) era muito pior. Agora, com a mudança de governo, há uma expectativa melhor. Mas os pais devem questionar porque ninguém está garantido financeiramente para manter o filho na escola particular com valores tão altos”, afirma Abreu. Ele ainda afirma que aumentos muitos superiores a inflação podem piorar o quadro das escolas, tanto por inadimplência como por evasão.
O levantamento envolveu o ensino fundamental e o médio e mostra que o maior aumento foi na mensalidade da primeira série do fundamental, 11,79%, que passou de R$ 1.062,94, em média em 2018, para R$ 1.188,23 neste ano. O menor reajuste foi no nono ano, que subiu em média 8,04%. No ensino médio, a mensalidade com reajuste maior foi a do segundo ano, que ficou 7,38% mais cara. O terceiro ano do ensino médios subiu menos, 7,29%, mas é a série mais cara das 12 séries pesquisadas e pode custar, por mês, até R$ 2.422 na capital mineira.
A servidora pública Angélica Machado, 43, afirma que terá que fazer cortes no orçamento para manter a filha de 8 anos no quarto ano de uma escola particular. Na média, essa série teve reajuste de 11,37% em 2019. “(Tenho que) cortar coisas, como voltar de Uber para casa. Vou optar pelo transporte público. E tentar economizar no supermercado”, diz. A mensalidade de Angélica foi para R$ 1.781.
Cálculo não usa índice de inflaçãoA mensalidade das escolas particulares não é reajustada pela inflação, segundo a presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), Zuleica Reis Ávila. “De acordo com a lei, a escola deve elaborar uma planilha de custo que justifique o aumento. Por isso não existe um índice único para o reajuste. É um equívoco aliar o aumento das escolas ao índice de inflação”, afirma Zuleica.
Ela explica que a planilha traz tanto os custos, que também sobem mais que a inflação, como investimentos. “As inovações e benefícios pedagógicos que cada escola oferece também entram na planilha”, acrescenta.
Justificativa
Para a servidora pública Angélica Machado, 43, que tem uma filha na rede particular de Belo Horizonte, o reajuste se justifica pelos investimentos feitos pelas escolas. “Reformas, site com sistema novo, integração de informações (explicam o reajuste)”, afirma Angélica. Já o coordenador do site Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, lembra que “os pais podem acessar a planilha para avaliar os gastos”, diz.
Aumento único influencia valor mais altoO fato do reajuste das mensalidades poder ser feito apenas uma vez por ano, influencia as escolas na hora de calcular o valor no início do ano, na avaliação do coordenador do site de pesquisas Mercado Mineiro, Feliciano Abreu.
“Como a escola não pode fazer acertos no decorrer do ano, o reajuste vem de uma vez e causa esse ‘susto’ nos pais. Mas é justificável, já que neste ano, o reajuste foi três vezes maior que o índice de inflação”, afirma o coordenador. A dica de Abreu, diante de um valor que não se encaixe no orçamento é pesquisar outras opções na rede privada ou mesmo na público. “Nenhum pai quer tirar o filho de uma escola por causa do preço, mas são várias opções. Belo Horizonte tem escolas tradicionais e a variação de preço é significativa”, lembra Abreu.
Segundo a pesquisa do Mercado Mineiro, entre as séries do ensino fundamental, a maior variação de preço encontrada entre os colégios foi de 317%, nos preços das mensalidades da primeira a quarta série. Na capital, o valor pode variar de R$ 517 a R$ 2.158.
Entre as séries do ensino médio, a que apresentou maior variação de preço foi a mensalidade do 2º ano, que pode custar de R$964 até R$2.237,76, o que corresponde a uma diferença de 135%.