Inadimplência faz preços das escolas aumentarem até 12%

Com crise, atrasos nos pagamentos das mensalidades chegaram a 15%, diz sindicato do setor

iG Minas Gerais | Ludmila Pizarro |

Cortes. Aumento da mensalidade pode demandar cortes no orçamento doméstico na capital mineira
LINCON ZARBIETTI - 2.2.2015
Cortes. Aumento da mensalidade pode demandar cortes no orçamento doméstico na capital mineira

Ano novo, mensalidade de escola nova e, em 2019, bem acima da inflação. Em Belo Horizonte, o reajuste das escolas particulares nete ano comparado com 2018 chegou a 11,79% segundo uma pesquisa do site Mercado Mineiro divulgada nesta quarta-feira (2). O índice está bem acima da estimativa de inflação do Banco Central (BC) para 2018, que é de 3,69%. Para a presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) Zuleica Reis Ávila, um dos fatores que impactou o reajuste foi a inadimplência, que no ano passado, entre janeiro e novembro, ficou entre 12% e 15%.

“A inadimplência nos assusta mais a cada ano. É consequência da condição econômica do país, o índice do desemprego e tem também a questão de que muitos servidores públicos estão com os salários atrasados”, avalia Zuleica.

Já o coordenador do site Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, pondera que no reajuste anterior, algumas escolas não aumentaram as mensalidades e até baixaram o valor. “É interessante porque há um ano atrás, na comparação entre 2017 e 2018, houve até queda no preço das mensalidades, porque a expectativa (econômica) era muito pior. Agora, com a mudança de governo, há uma expectativa melhor. Mas os pais devem questionar porque ninguém está garantido financeiramente para manter o filho na escola particular com valores tão altos”, afirma Abreu. Ele ainda afirma que aumentos muitos superiores a inflação podem piorar o quadro das escolas, tanto por inadimplência como por evasão.

O levantamento envolveu o ensino fundamental e o médio e mostra que o maior aumento foi na mensalidade da primeira série do fundamental, 11,79%, que passou de R$ 1.062,94, em média em 2018, para R$ 1.188,23 neste ano. O menor reajuste foi no nono ano, que subiu em média 8,04%. No ensino médio, a mensalidade com reajuste maior foi a do segundo ano, que ficou 7,38% mais cara. O terceiro ano do ensino médios subiu menos, 7,29%, mas é a série mais cara das 12 séries pesquisadas e pode custar, por mês, até R$ 2.422 na capital mineira.

A servidora pública Angélica Machado, 43, afirma que terá que fazer cortes no orçamento para manter a filha de 8 anos no quarto ano de uma escola particular. Na média, essa série teve reajuste de 11,37% em 2019. “(Tenho que) cortar coisas, como voltar de Uber para casa. Vou optar pelo transporte público. E tentar economizar no supermercado”, diz. A mensalidade de Angélica foi para R$ 1.781.

  Cálculo não usa índice de inflação

A mensalidade das escolas particulares não é reajustada pela inflação, segundo a presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), Zuleica Reis Ávila. “De acordo com a lei, a escola deve elaborar uma planilha de custo que justifique o aumento. Por isso não existe um índice único para o reajuste. É um equívoco aliar o aumento das escolas ao índice de inflação”, afirma Zuleica.

Ela explica que a planilha traz tanto os custos, que também sobem mais que a inflação, como investimentos. “As inovações e benefícios pedagógicos que cada escola oferece também entram na planilha”, acrescenta.

Justificativa

Para a servidora pública Angélica Machado, 43, que tem uma filha na rede particular de Belo Horizonte, o reajuste se justifica pelos investimentos feitos pelas escolas. “Reformas, site com sistema novo, integração de informações (explicam o reajuste)”, afirma Angélica. Já o coordenador do site Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, lembra que “os pais podem acessar a planilha para avaliar os gastos”, diz.

  Aumento único influencia valor mais alto

O fato do reajuste das mensalidades poder ser feito apenas uma vez por ano, influencia as escolas na hora de calcular o valor no início do ano, na avaliação do coordenador do site de pesquisas Mercado Mineiro, Feliciano Abreu.

“Como a escola não pode fazer acertos no decorrer do ano, o reajuste vem de uma vez e causa esse ‘susto’ nos pais. Mas é justificável, já que neste ano, o reajuste foi três vezes maior que o índice de inflação”, afirma o coordenador. A dica de Abreu, diante de um valor que não se encaixe no orçamento é pesquisar outras opções na rede privada ou mesmo na público. “Nenhum pai quer tirar o filho de uma escola por causa do preço, mas são várias opções. Belo Horizonte tem escolas tradicionais e a variação de preço é significativa”, lembra Abreu.

Segundo a pesquisa do Mercado Mineiro, entre as séries do ensino fundamental, a maior variação de preço encontrada entre os colégios foi de 317%, nos preços das mensalidades da primeira a quarta série. Na capital, o valor pode variar de R$ 517 a R$ 2.158.

Entre as séries do ensino médio, a que apresentou maior variação de preço foi a mensalidade do 2º ano, que pode custar de R$964 até R$2.237,76, o que corresponde a uma diferença de 135%.