Você sabe o que é caviar?
Ovas de peixe, que a maioria dos brasileiros nunca viu, nem comeu e, no máximo, ouviu falar são comuns na Rússia
São Petersburgo, Rússia. Uma fatia de pão, um pouquinho de manteiga e uma colher de caviar. É dessa maneira que qualquer família de classe média russa delicia uma das iguarias mais caras do mundo, principalmente no Brasil. Em datas especiais ou ainda quando se recebe um visitante em suas casas, as famosas ovas de peixe são ingrediente obrigatório no café da manhã. Podem acompanhar ainda uma bela panqueca ou servir de tira-gosto para uma boa dose de vodca.
Mas como a grande maioria dos brasileiros nunca viu nem comeu e no máximo só ouviu falar dessa famosa iguaria de sabor incomparável e preço estratosférico, o SUPER FC visitou uma das lojas e bares mais sofisticados da cidade de São Petersburgo, a Caviar Russia, para aprender tudo sobre esse produto, que é um clássico na mesa dos moradores do país.
O caviar é a ova do peixe esturjão, encontrado principalmente nos mares gelados do país que recebe a Copa do Mundo. Peixe que vive nas profundezas e pode pesar até 200 kg, ele não é fácil de ser pescado, além de a manipulação para retirar suas ovas ainda frescas necessitar de habilidades artesanais de um quase cirurgião. Por isso, o valor da iguaria mundo afora equivale ao preço do ouro, que, diferentemente do caviar, cujo prazer de deliciar dura poucos segundos, pode resistir uma vida inteira.
Especialista na iguaria e atendente do bar e da loja localizada no centro da segunda maior cidade russa, Eugenia Dmitrieva nos conta que é possível encontrar nas maiores produtoras e revendedoras do país mais de cem opções para consumo próprio. O preferido dos russos, e também o mais caro e nobre, é o beluga, de coloração cinza-escura a negra, considerado uma joia dos mares.
Ela nos explica que caviar não se come, não se mastiga, apenas se degusta e se delicia, colocando uma pequena porção na boca e deixando que suas bolinhas explodam liberando um sabor inigualável. “E o único substituto para a vodca deve ser uma bela taça de champanhe, acompanhamento ideal para quem prefere uma bebida mais leve”, avisa a atendente.
Se já foi algo do cotidiano diário nas cozinhas das famílias russas, Eugenia conta que os preços andam inflacionados até no mercado russo, o que dificulta o consumo por parte de algumas pessoas. Isso porque, durante muito tempo, não era possível retirar as ovas do esturjão sem matar o peixe, o que o deixou à beira da extinção. “Mas agora alguns produtores já utilizam uma técnica mais moderna, que é massagear a barriga do peixe e retirar o caviar sem matá-lo. Isso pode baratear o caviar a longo prazo”, conta.
Caro. Mas nem a inflação no valor do caviar na Rússia torna o produto inacessível por aqui. Ainda mais quando se fala do caviar de coloração vermelha, mais barato por vir de um tipo de esturjão menor, mais novo e mais fácil de ser encontrado. Este é o tipo que o russo e o turista se deparam em qualquer prateleira de quaisquer cidades. Mais que uma extravagância, degustar o caviar é um prazer que faz parte da história da Rússia e que se torna um ritual dos privilegiados na hora de curtir a Copa do Mundo no país.
História
Durante o período em que a Rússia era governada pelos czares, a corte real emitiu uma lei, que perdurou até o século XIX, obrigando os pescadores a enviar ao palácio um mínimo de 11 t de caviar de primeiríssima qualidade todos os anos. E nem mesmo a Revolução Comunista, que lutou contra os luxos do Império, fez com que os governantes abrissem mão de se deliciarem com o sabor inigualável dessa iguaria. Conta-se que Josef Stálin exigia que ao menos 2/5 de todo o caviar de sterlet fossem remetidos às cozinhas do Kremlin.