Aethra faz mais inovação para liderar mercado de autopeças
São quase 500 robôs em operação e 36 patentes de produtos adquiridas
Prestes a fazer 80 anos, Pietro Sportelli tem a garra e a vontade de um jovem que quer levar adiante os sonhos de um empreendedor em início de carreira. Ele e sua mulher, Gilma, trabalham todos os dias para continuar com o desenho de suas vidas – a Aethra, uma das maiores indústrias de autopeças do país.
Com sede em Contagem (MG) e 11 unidades, sendo dois centros de pesquisa, em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo e Argentina, além de uma representação nos EUA, Pietro e Gilma, sócios-fundadores da Aethra, em 1974, e o filho e CEO, Rafael, têm buscado a inovação constante no chão de fábrica, além de preparar novos ferramenteiros, mão de obra essencial ao negócio.
“Todas as indústrias que não praticarem a inovação vão sucumbir. Toda a minha equipe está preparada e trabalhando forte na inovação”, sentencia Pietro.
Com 3.800 funcionários, a empresa tem 200 profissionais de engenharia envolvidos na inovação e 36 patentes adquiridas de produtos idealizados e feitos na Aethra. “Ao menos 200 itens dos mais de 400 que a Aethra faz têm inovação”, garante Pietro.
Com quase 500 robôs que podem chegar a 3 m de altura quando estão trabalhando, Pietro conta que foi um dos primeiros a implantar robô na indústria nacional numa antecipação à ascensão da indústria 4.0.
Em 1996, o industrial comprou duas linhas (de robôs) para fazer eixo e travessa dianteira para a Fiat. “Formamos robotistas (trabalhador que programa o robô). O Brasil não tinha esse profissional. Hoje, nossos robotistas estão em toda a indústria nacional”, afirma.
O industrial explica que o robô melhora a qualidade com a ponta de solda mais precisa. “A peça exige um certo nível de qualidade na estampagem porque é muito importante acoplar, senão a solda sai etc. Hoje temos o domínio disso. Fomos o primeiro e estamos bem adiantados em tudo”, conta.
Com grandes clientes da indústria automobilística – Fiat, Man, Volks, Jeep, Grupo PSA, Renault e Ford – Pietro conta que o volume de produção se ressente da crise. “Estamos com um terço da nossa capacidade. Estamos muito ociosos. Estamos com um terço do que se faturava em 2010, 2011”, diz.
Ferramentaria
Pietro aponta dificuldades para encontrar profissional de qualidade. “Antigamente, eu escutava falar de técnico do Senai, que um garoto entrava e aprendia. Hoje não escuto mais falar de alunos do Senai. Nós, por exemplo, temos 160 garotos”, informa.
E acrescenta: “Estamos com o Senai, mas do Senai só temos o apoio que eles podem nos dar, o resto fazemos”. Para ser um ferramenteiro completo, o ciclo de formação é composto por: dois anos no Senai, e, na Aethra, dois anos na ferramentaria, um ano na engenharia e um ano no custo. “Somos uma firma que tem técnico em ferramentaria ou engenheiro de ferramentaria”, explica.
Para o industrial, o governo deveria levar a indústria a sério e fazê-la crescer. “A China deu atenção a isso e está desenvolvendo a ferramentaria que possa dar o apoio à indústria automobilística. Neste ano, a China deve fazer em torno de 37 milhões de carros; no ano passado, fez 29 milhões de unidades. Mas ela montou um grande parque de ferramentaria, para a peça sair conforme o projeto, e assim vai a especialização”, conclui.
Internacionalização está nos planos da empresa em 5 anos
A Aethra tem projetos avançados de internacionalização para os Estados Unidos e a Europa. Atualmente, o fornecimento de serviços e produtos de alta tecnologia vai para a indústria automobilística do Brasil e da América Latina. Mas a empresa já instalou um escritório em Detroit, nos EUA, onde está fazendo pesquisa.
Outro escritório na Inglaterra faz o mesmo trabalho. O CEO da Aethra, Rafael Sportelli, tem feito o trabalho para ganhar o mercado externo. “É para ver se em até cinco anos teremos indústrias no mercado europeu e norte-americano”, calcula o chairmain Pietro Sportelli.
Um dos entraves para poder concorrer e formar o profissional à altura do mercado e da concorrência mundial é, para o chairman, o alto custo Brasil. A incidência de impostos no setor de autopeças atinge 48% do produto.
Para Pietro, descer esse percentual para 6%, 7% ou 8%, que são os índices praticados em outros países, representaria um tombo muito grande para o governo, sendo praticamente impossível. “Mas acredito que pelo menos para 15% deveria abaixar esse imposto”, calcula.
Para Pietro, a indústria precisa de incentivo à tecnologia, uma reforma tributária decente e geração de emprego para combater a concorrência internacional. “Temos que estar em condições não com custo alto como está o Brasil, mas pelo menos baixar de 15% a 20% do custo Brasil”, observa.