Com Jennifer Aniston, 'Dumplin’' tenta fugir dos padrões de beleza atuais
Filme traz discurso de empoderamento feminino, mas não evita clichês
Diante de tantas opções na tela do computador ou do celular, é difícil bater o olho no cartaz de um filme com Jennifer Aniston usando uma coroa de miss e pensar: “Ah, esse filme deve ser bom e vou ver já!”. Porém, a ex-“Friends”, que é uma competente atriz de comédias românticas, mostra outro lado em “Dumplin’”, dramédia de Anne Fletcher, que estreou recentemente na Netflix. Veja o trailer:
O longa até surpreende ao abordar de forma leve, porém eficaz, a questão dos padrões de beleza e das convenções sociais. Afinal, quem disse que é impossível o bonitão da escola gostar da menina gordinha em vez da “Barbie”? Será que a feminilidade está na maquiagem, no salto alto e na roupa decotada ou ela também pode estar no coturno e na camiseta básica?
“Dumplin” foge da abordagem clássica dos filmes de miss, pois a protagonista não é uma Sandra Bullock, que, em “Miss Simpatia”, entra no que é considerado o padrão de beleza para se encaixar no concurso. No filme de Anne Fletcher (“Vestida para Casar”), é o concurso de miss que tem de se adequar às suas competidoras, meninas que têm corpos de diferentes tipos e não querem mudar nada, por mais que tentem convencê-las de que elas não podem ser plenas sem se enquadrarem no que é considerado belo e “normal”.
Com uma abordagem mais moderna do que a maioria dos filmes voltados para o público juvenil, “Dumplin’” traz as vítimas de bullying em uma atitude menos retraída, menos afetada pela opinião alheia. Dentro desse contexto, o filme mostra uma versão mais empoderada dessas garotas que não são populares.
No filme, Jennifer Aniston é Rosie Dickson, uma celebridade na cidadezinha do Texas onde nasceu, cresceu e é uma eterna miss. Ela organiza os concursos de beleza na região, e sua agenda sempre foi muito cheia de eventos e compromissos decorrentes desse título. Ser miss é sua vida. Por isso, quem criou sua filha, Willowdean (Danielle Macdonald), foi sua irmã, Lucy.
Quando Lucy morre, Willowdean descobre um segredo sobre a vida dessa alegre mulher: o sonho dela era participar do concurso de miss. Lucy chegou até mesmo a preencher a ficha de inscrição, mas não teve coragem de entregar à organização do evento por causa de seu peso. Para manter acesa em sua vida essa figura materna, Willowdean decide levar adiante o sonho da tia e se inscreve no concurso.
A atitude de Willowdean, que a mãe chama de “fofinha” por causa de seu peso, inspira outras jovens, cujos corpos e estilos não estão representados nas capas de revista. Além do desafio do concurso, Willowdean também tem de lidar com sua mãe, que desaprova a entrada da filha na competição, e com suas próprias inseguranças em relação ao amor.
Apesar de ter na temática a fuga dos padrões e a quebra de estereótipos, “Dumplin” acaba caindo no preconceito ao retratar as drag queens que fazem imitações de Dolly Parton e são parte fundamental nessa busca de Willowdean por sua identidade. Um tropeço num filme que, ainda assim, diverte, mesmo sem ser um “Pequena Miss Sunshine”.
Referência
Em 2006, Jonathan Dayton e Valerie Faris apresentaram “Pequena Miss Sunshine”, filme que aborda os concursos de miss na percepção de uma menina, cujo sonho é estar nessas competições.
Na trama, Abigail, uma garotinha desengonçada, é selecionada para um concurso e parte com sua família numa road trip a bordo de uma kombi amarela. Na estrada estão o avô e treinador de Abigail (Alan Arkin), viciado em drogas; o tio (Steve Carrell), que acaba de tentar o suicídio; a mãe nervosa (Toni Collette); o pai falido (Greg Kinnear) e o irmão rebelde (Paul Dano).
A viagem trará alguns acontecimentos marcantes em situações inusitadas. O sucesso de “Pequena Miss Sunshine” impulsionou a produção de reality shows sobre os concursos mirins, como a sensação “Honey Boo Boo”, que rendeu até um programa sobre a mãe de Boo Boo, Mama June, em cartaz no país no canal TLC.