Erasmo Carlos: “Fico assustado com esse governo, só vejo abobrinhas”

Cantor chega a BH com a turnê “Amor É Isso”, e alia músicas recentes a sucessos

iG Minas Gerais | Raphael Vidigal |

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O garoto que cresceu ouvindo Elvis Presley, Little Richard e Chuck Berry tem uma revelação surpreendente a fazer: “Me considero um compositor de MPB”, afirma Erasmo Carlos, que, aos 77 anos, mantém a jovialidade, e dá como prova a conquista do Grammy Latino no ano passado. Mais do que ganhar um prêmio pelo conjunto da obra, o que o fez se “sentir vivo, na briga, esperançoso” foi a indicação da música “Convite para Nascer de Novo” (parceria com Marisa Monte e Dadi) na categoria melhor canção em língua portuguesa.

Presente em “Amor É Isso” (2018), disco que também concorreu na categoria rock, a música está garantida no repertório da noite. Erasmo desembarca nesta sexta (10) em Belo Horizonte com a turnê do novo trabalho. Apesar de contemplar a faixa-título, que virou tema da nova fase do seriado global “Malhação”, e de pinçar algumas outras novidades, a exemplo da antenada “Termos e Condições”, feita com o rapper Emicida, os sucessos de uma carreira iniciada em 1964 no mercado fonográfico, com o compacto que trazia “O Terror dos Namorados” de um lado e “Jacaré” do outro, devem prevalecer.

“Me vejo como um fã. Se eu for ao show dos Rolling Stones, eu vou querer que eles toquem ‘Satisfaction’ 50 milhões de vezes. Se não tocarem, eu vou ficar ‘pô, não tocaram Satisfaction’”, compara Erasmo, a fim de justificar as presenças de “Sentado à Beira do Caminho”, “Mulher”, “Minha Fama de Mau” e “Mesmo que Seja Eu” no roteiro do espetáculo. A quantidade de hits radiofônicos, no entanto, nem sempre esteve acompanhada do reconhecimento da crítica, algo que o tempo tratou de unificar. Também em 2018, o Tremendão (apelido recebido durante a Jovem Guarda), levou para casa o troféu de compositor brasileiro concedido pela União Brasileira dos Compositores (UBC), pelas mais de 800 canções já escritas, grande parte ao lado do “amigo de fé, irmão camarada” Roberto Carlos. 

“Eu fiz escola no rock brasileiro porque usei elementos do gênero como se fossem de MPB, e aí consegui encontrar uma linguagem que fugia do bê-á-bá”, observa o cantor, que se recorda de um elogio marcante recebido por ele de um crítico musical. “Ele escreveu numa reportagem que a fórmula do meu sucesso era não ter caído na armadilha do rock em português, porque, embora eu elaborasse as letras de maneira direta, elas não eram bobocas”, orgulha-se. 

A predominância do mais universal dos sentimentos completa a receita. “O meu segredo é falar de amor, que sempre está na moda. Quem não amou ou está amando vai amar ainda, e parece que é sempre a mesma coisa, mas, não, muda a cada dia”, diz. 

Cinema. Outra constatação da força desse legado é o fato de Erasmo ter virado filme. Ou, ao menos, parte de sua trajetória. Dirigido por Lui Farias, “Minha Fama de Mau” repetiu o título da autobiografia lançada por Erasmo em 2008, mas, ao contrário desta, preferiu se ater apenas à fase inicial da vida do protagonista, vivido na telona por Chay Suede. “Achei muito engraçado ver as pessoas vivendo coisas parecidas com as que eu vivi. Gostei muito das atuações, eles souberam assimilar bem o meu jeito, do Roberto e da Wanderléa”, elogia. “A abordagem do diretor foi de intencionalmente fazer um filme alegre, festivo, com as coisas boas da Jovem Guarda, mas, no fundo, a barra era muito mais pesada”, completa. 

Aliás, uma das acusações mais comuns durante o estouro do movimento que revelou ao mundo o trio Roberto, Erasmo e Wanderléa era de alienação política, justamente no período de chumbo da ditadura militar, além de rebobinarem em português uma centena de versões dos hits ianques.

“Aos poucos as pessoas foram entendendo a honestidade do meu trabalho e resolveram dar a César o que é de César”, afiança Erasmo. “Mais sábio, maduro, amando a si próprio e honesto com a arte que faz”, o músico não tem visto com bons olhos a política atual. “Torço por mudanças, as coisas não iam bem. Fico assustado com esse governo, as novidades que vejo por aí não são práticas, só vejo abobrinhas e besteiras, numa fogueira de vaidades que se esqueceu do país”, finaliza. 

Serviço. Turnê “Amor É Isso”, de Erasmo Carlos, nesta sexta (10), às 21h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (av. Amazonas, 315, centro) Ingressos: R$ 60 (inteira)

Ouça a nova música de Erasmo que concorreu ao Grammy: